terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Professores

    Há pessoas que se cruzam na nossa vida que são marcantes. Pela dimensão humana, em primeiro lugar, mas também pelas qualidades científicas e pedagógicas que demonstraram na sua profissão. Tive o privilégio de ter tido professores exemplares, modelos de dedicação, cujo legado mais precioso que valorizavam e procuravam transmitir era a importância de aprender a pensar.  
    “Aprender a pensar” é muito mais que aprender determinada matéria ou assunto. É uma qualidade de reflexão, de sentido crítico, de exercício de questionamento que atravessa toda e qualquer aprendizagem.

    A par da família e dos amigos, certos professores são figuras estruturantes. E isto não é pouco. É muito. Por isso aprendi a admirá-los. Não tenho dúvidas que muitos deles marcaram a minha vida, que fizeram de mim uma pessoa melhor e que, acima de tudo, participaram na construção da minha personalidade.
    Eles sabem que agradeço.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A minha família

    Sou de natureza rebelde. Sempre fui, desde miúda. Vivi num contexto de grande liberdade; tudo se podia discutir sem reservas e sempre tive direito a opinião, pelo que aprendi desde cedo a argumentar. A tolerância e compreensão dos meus pais era muitas vezes incompreendida pelos outros. 
     Desde pequena me habituei a ouvir falar do “sentido estético” – “já sei mãe, ter sentido estético é fundamental” - dizia eu, antes de ela o chegar a dizer novamente. Das coisas mais simples às mais complexas, como o modo como comemos, o trato com os outros, a atitude (“costas direitas”, entre muitas outras coisas), certos gostos como a leitura, são adquiridos no contexto familiar. Somos, em grande medida, as experiências que nos foram proporcionadas pelo ambiente onde vivemos. Acredito tanto nisto como em mim, que não é pouco; somos o produto da educação que levamos e do que vimos ser feito.

     Sinto-te grata pela minha família e orgulhosa do que fizeram de mim.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Sinto-me lenta...

Hoje estou com a cabeça “num oito”. Passei a tarde à volta da matemática, o cérebro só processa números e os momentos da festa de ontem.
Como se transforma a linguagem numérica em palavras? Se cada algarismo correspondesse a uma letra, os números a palavras, poderia aqui escrever equações, derivadas, integrais e outras coisas loucas que tais (xD)
As ideias emigraram para qualquer outro lugar do meu corpo e parece que tenho a cabeça oca, miolo mole; não passa nada cá dentro. A festa atrasou-me o estudo e o raciocínio, mas valeu a pena. Descomprimir às vezes é a salvação; alargar o espaço livre que há em nós para receber mais coisas.
Será que estou a ficar lerda? Nem oito nem oitenta. Amanhã é outro dia e uma boa noite de sono deve repor tudo no seu lugar.

Boa noite.

Amigos

    Hoje vou a uma festa com os meus amigos. Coisa rara, isto de sair para uma discoteca: não aprecio o mesmo tipo de ambiente e música da maioria das pessoas. Mas aprecio os meus amigos e o que a festa de hoje representa e, por isso, lá estarei.
   Ter amigos é uma das coisas especiais da vida. É com eles que partilhamos as alegrias e os fracassos, os gostos e desgostos, o tédio e a euforia. A amizade é uma arte que exige tempo e dedicação, disponibilidade e aceitação. Os meus amigos, não sendo perfeitos, são meus, fazem parte de mim. Farto-me de discutir e desatinar com algumas das coisas que fazem, mas esse sentimento é, certamente, recíproco. É assim que as coisas são; a amizade tem destas coisas: faz da fragilidade uma força, de uma imperfeição uma característica singular que aprendemos a apreciar naquela pessoa.

    Conheço muita gente mas não tenho muitos amigos. Cada amigo, com quem aprendemos a viver  a vida, merece muito. Merece tudo.    

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cheiros

    A minha relação mais imediata e sensível com as pessoas e os lugares estabelece-se através do olfato. Reconheço-lhe o poder de me seduzir para um local onde, em algum momento, despoletou sensações gratas, de me aproximar ou afastar de pessoas, de aderir ou recusar inconscientemente determinadas situações.
    Têm a intrigante capacidade de desencadear memórias de infância, de nos fazer cativar por um sítio ou uma pessoa, de nos levar a repetir comportamentos, de avaliar as pessoas. O mundo dos cheiros é fascinante; agradáveis, neutros, repelentes, intensos ou delicados, inesquecíveis ou apenas fugazes – aromatizam a vida.
    Como se regista e guarda no cérebro a memória de um cheiro? De que são feitos os cheiros? Quando “cheiramos” um odor ele entra em contacto connosco?
     Acredito que um dia saberei as respostas para estas perguntas, as quais vão certamente para além da biologia.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Azul

    Azul é uma cor pacífica, aliás, como o oceano pacífico, atlântico e todos os outros. Dizem os especialistas de coisas estranhas, que sabem as estatísticas do mais excêntrico que nos possa passar pela cabeça, que a cor azul é a que colhe a maior preferência da população mundial. Vá-se lá saber porquê.
    Eu gosto de azul. Hoje estou vestida de azul da cabeça aos pés. O nosso planeta, visto da lua, parece azul. Em dias tristes e chuvosos, como o de hoje, apetece-nos um céu azul e com ele uma promessa de claridade e a alegria de um dia, pelo menos, morno. As cores ligam-se a estados de espírito. Seria improvável que alguém dissesse “hoje estou cinzento de felicidade” mas é muito frequente ouvir a expressão “é ouro sobre azul”, utilizada com o significado de perfeição, plenitude.

    O meu coração é azul; azul Porto.

Os gatos da minha casa

    Um dia encontrei um pequeno gato na rua, amedrontado e sujo. Foi um dia feliz.
    A Mia (afinal era uma gata) trouxe à vida da minha família um afeto de um tipo novo. A minha mãe, mal a viu, rendeu-se. Foi amor à primeira vista e, na noite em que lhe liguei a avisar que estava prestes a ter as crias, terminou apressadamente uma reunião, anunciando que a Mia ia parir. Assistimos ao nascimento dos gatitos e ficamos com o Pepe.
    O desaparecimento da Mia trouxe um sofrimento desconhecido até então. A minha mãe procurou-a na cidade durante um mês, na expectativa de a encontrar. Vi-a na beira da estrada, longe de casa; tinha sido atropelada nesse dia. Está ao fundo do quintal, debaixo da figueira. Tal como o Fellini e a Luna que, posteriormente, nos deram o prazer de usufruir, ainda que brevemente, connosco.

    Resta o Pepe, o sobrevivente, e a certeza de que, mesmo transitoriamente, é um privilégio viver com estes bichos maravilhosos. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Ninho

    Chegar a casa (a propriamente dita, em Guimarães) e ter o lume aceso, o cheiro a lenha,  o gato enroscado no sofá, a avó a emparceirar meias azuis com pretas, cinzentas, sempre com o ar mais compenetrado do mundo, a tentar que bata tudo certo. 
    Ir à cozinha, o lugar do encontro, e provar o arroz ainda no tacho, depenicar as travessas e participar na alegria das conversas desta família que, tal como a minha mãe diz, parece uma "família siciliana".  
    Agora que me distanciei, fiquei com a certeza de que a “nossa casa” é o ninho a que apetece sempre voltar.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

À primeira vista...

    No que toca a conhecer as pessoas, há quem diga que a primeira impressão é que conta. Outros aconselham a prudência de deixar amadurecer a sensação inicial. A mim parece-me que nem uma coisa, nem outra. Há rostos que, a um primeiro olhar, nos surgem logo transparentes, o sorriso simpático e genuíno, os gestos naturais – geralmente correspondem a pessoas que se apresentam sem filtros, são o que são e delas posso esperar aquilo que o primeiro olhar me devolveu.  Outros, pelo contrário, são baços, opacos, o sorriso sonso, a linguagem corporal encolhida; pessoas calculistas, assustadiças, em competição permanente que se apresentam receosas de que toquem no seu acanhado mundo.

    Felizmente rodeiam-me pessoas luminosas... Podemos não estar sempre em concordância mas sei que falo com quem vejo.

domingo, 12 de janeiro de 2014

O futuro do futuro

O tempo presente é sôfrego e vertiginoso; parece que nos suga para dentro de uma máquina, que acelera as pessoas e as coloca em rota de colisão umas com as outras. Corremos de um lado para o outro numa ânsia permanente, sempre atrasados, desacertados.
    Até um relógio parado está certo duas vezes ao dia.
    Paremos para pensar.

    E se a experiência do tempo aceitasse a lentidão, acertasse com o ritmo biológico, da vida? Estamos a viver tão rápido que nem aproveitamos aquilo tudo por que passamos e que tem mais qualquer coisa para nos ensinar. A viver em sobressalto deixamos que nos passem coisas ao lado, que nada dure quanto queremos. Será que a vivência do tempo em turbilhão tem futuro? Será que é mais proveitoso?

O futuro do passado

    O passado da minha avó não tem futuro. A ausência de memória, de capacidade de registo, de fixar os acontecimentos apaga a possibilidade da existência, no futuro, do seu passado. Só existe presente. Cada coisa existe apenas no estrito momento do seu cumprimento, no ato. E depois desaparece, como se nunca tivesse existido.
    A experiência do tempo; o agora, o presente são, por isso, a experiência do afeto, da meiguice permanentemente renovados. Cada gesto, palavra, olhar tem uma existência única, intensa, genuína, irrepetível.

    Viver com a minha avó e a sua doença é aprender a conjugar o amor sempre no tempo presente.  

sábado, 11 de janeiro de 2014

Ilusão

    A frequência com que nos últimos anos têm vindo a acontecer condições climatéricas extremas e fenómenos naturais catastróficos causa-me uma enorme confusão. 
    O poder das imagens que nos entram pela casa dentro por estes dias - ondas gigantes que alagam tudo em volta, as cataratas do Niagara absolutamente congeladas, temperaturas que oscilam entre os 40 graus negativos e os 40 graus positivos, - mostra a força da natureza absolutamente indomesticável e a fragilidade do Homem que, chegado ao século XXI, ousou desejar que, um dia, tudo estaria sob o seu controle, inclusivé a natureza .

   Pura ilusão.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O que acontece aos guarda-chuvas?

    É o que a minha avó diz várias vezes quando chega a casa; “não sei onde está o meu guarda-chuva”. A minha mãe também está sempre a dizer que todos os que compra eu perco, que não sabe o que lhes faço. Interrogo-me para onde vão tantos e tantos guarda-chuvas. Afinal, estive a averiguar e não sou a única pessoa a quem isto acontece! Será que há um planeta especial que os suga? Até soube que escreveram um livro dedicado a esse tema!!
    Hoje estive em casa de uma amiga, à qual vou várias vezes, e qual não foi o meu espanto de lá ter encontrado 2 guarda-chuvas meus. Pensei "estes não, mas de certeza que os outros seguem a minha teoria".
    Isto é apenas uma linha do que realmente me inquieta; para onde vão as memórias da minha avó que não se lembra do guarda-chuva nem de coisa nenhuma...?

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Havia tarte, hoje, em casa

    Tem 3 camadas e é a melhor do mundo; o recheio de leite condensado e gemas é cremoso e viciante, as claras em castelo com açúcar desfazem-se deliciosamente na boca e o sabor da massa da base de bolacha e manteiga dá uma consistência espantosa que só me faz querer não parar de comer.
    A minha mãe está doente, agarrada à botija e o meu irmão decidiu fazer uma tarte para lhe adoçar o bico. Cozinhar pode ser um ato de amor.

    Afinal de contas, quem o come somos nós, mas o que conta é a intenção.  

Novos Ciclos

    A vida é uma constante renovação. Do mais simples ao mais complexo, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande – tudo na vida se renova. Algo termina , cessa  e logo o apelo do recomeço  aí está.
    Há um calendário que marca fins e inícios. Quando o meu avô era vivo, era hoje que finalizávamos as festas de Natal.  Guardava  o pinheiro, as bolas, as iluminações e os reis magos do presépio no fundo do caixote.
    O esforço de ontem e dos dias que o anteciparam não acabou, só troquei de livros. Acabou uma fase para começar já outra. E é tudo assim; ciclos que se sucedem, degraus que se sobem. No fim da escada, morremos.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O desafio

    A noite não passa. Vejo as horas a cada 15 minutos. A ansiedade toma conta de mim, tenho medo de adormecer e não acordar a horas para o exame. Continuo a não saber lidar com isto.
    Ter força para abdicar, virar as costas à festa, aos amigos e centrar-me nos livros. Um desafio nada fácil de enfrentar. Ter espírito de sacrifício e não ceder às tentações. Saber qual é o caminho, não me desviar do rumo. Valerá a pena todo este empenho? 
    “Coloca – te inteiro no mínimo que faças e serás grande”, dizia Pessoa.

    No fim, sinto que todo o esforço vale a pena. 

de que serve ter medo?

    Ter um irmão adolescente e viver num constante sobressalto. Crescer implica correr riscos, enfrentar o desconhecido, todos sabemos, mas não consigo deixar de o tentar proteger das ameaças, amaciar as quedas, antecipar os perigos. A vida mostrou-me coisas a mais e sei que ainda não as vi todas. Estou bem longe mas já fui dando uns passos.
    A noção da fragilidade da vida quando se está a começar a ensaiar a autonomia, a andar pelo próprio pé, a ser a única a intervir nas decisões, assusta.

    A sensação de medo e a consciência do seu paradoxo: a sua inevitabilidade e, simultaneamente, a sua inutilidade. De que serve ter medo? De nada mesmo, mas não consigo evitá-lo.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Fundelo

     Oito hectares de vida - milho, aveia, mirtilos, caracóis, galinhas, água a correr pelos regatos e verde a perder de vista; o Fundelo. Redimensionei a admiração pelo meu pai, que ousou recomeçar a vida (não foi virar a página, mas antes escrever um livro novo); dedicar-se à agricultura, cumprir o sonho de infância. É uma fonte de admiração e uma prova de que, para além de nunca ser tarde para sonhar, se tiver espírito de sacrifício e um caminho bem delineado a percorrer, consigo tudo o que ambiciono. É tudo uma questão de força.  

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Guimarães - Porto/Porto - Guimarães

     No percurso Guimarães – Porto/ Porto – Guimarães, desenho itinerários de futuro. Quilómetro a quilómetro, que é como quem diz passo a passo, construo expectativas, possibilidades  de vida. Vou desenhando as metas que quero atingir; tudo me parece possível mas difícil, vejo obstáculos. Hoje sinto-me capaz de os alcançar mas não sei o que me espera amanhã. Cada dia é um dia.  
     Há dias cinzentos, sombrios, de horizonte fechado. Também outros solares, luminosos, abertos a todos os sonhos. Dizem que o “caminho faz-se caminhando”, portanto, vou meter pés ao caminho.  

     Até amanhã.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

os meus sonhos

     Sempre que estamos a dormir, sonhamos. No entanto, só nos lembramos dos nossos sonhos quando os interrompemos; quando acordamos. Eu sou daquelas pessoas que acorda muitas vezes durante a noite e que, por isso, teria mais que muitos episódios virtuais para escrever num diário. Mas já decidi que não o vou fazer. Já pensei várias vezes em escrevê-los todos e mostrar a um psicanalista para que mos interpretasse, mas tenho um bocado de medo do que pudesse dizer. Eu sei que, no fundo, todos temos um bocado de loucura a latejar, a querer emergir a qualquer momento. Às vezes dou por mim a pensar que talvez me tenham destinado uma dose a mais. Dizem que os sonhos são o nosso inconsciente a falar… deve estar muito confuso. Será que tenho dúvidas que desconheço? Sei tudo sobre mim? 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

hoje sinto-me verde

     1 é número verde aberto de possibilidades até ao infinito e janeiro esperança verde. Dança um manifesto na minha cabeça. Manifesto verde; intenções à espera de amadurecimento. Não é o verde inveja, oh Camões! É o verde à espera do sol, da chuva, do vento para florescer, de tudo o que vier. Começo a pensar no que quero conseguir e no que vem para o conseguir. Cresce em mim um sentimento de desafio, de conseguir algo novo e diferente de tudo o que já fiz. Afinal, é tudo diferente do que era, há já alguns meses. Os objetivos são diferentes e, por isso, também tenho de mudar de ritmo. 
     Concentro-me no verde; na esperança, nos instintos e no equilíbrio que vou precisar. Estou confiante no que aí vem.