domingo, 12 de janeiro de 2014

O futuro do passado

    O passado da minha avó não tem futuro. A ausência de memória, de capacidade de registo, de fixar os acontecimentos apaga a possibilidade da existência, no futuro, do seu passado. Só existe presente. Cada coisa existe apenas no estrito momento do seu cumprimento, no ato. E depois desaparece, como se nunca tivesse existido.
    A experiência do tempo; o agora, o presente são, por isso, a experiência do afeto, da meiguice permanentemente renovados. Cada gesto, palavra, olhar tem uma existência única, intensa, genuína, irrepetível.

    Viver com a minha avó e a sua doença é aprender a conjugar o amor sempre no tempo presente.  

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